A denominada Partida da Morte foi um jogo de futebol não-oficial disputado em 1942 por prisioneiros de guerra soviéticos e soldados nazistas da Wehrmacht. O time soviético, formado em sua maioria por ex-jogadores do Dínamo de Kiev, derrotou os alemães, mesmo sabendo que as consequências de tal feito poderiam ser fatais.
Durante
a década de 1930 o futebol tornou-se um esporte muito popular na antiga União
Soviética, particularmente na Ucrânia. A equipe ucraniana mais forte da época
era o Dínamo de Kiev.
Para entender: Em
Junho de 1941, teve início a invasão da União Soviética perpretada pela
Alemanha Nazista.
Para defesa da Pátria-mãe, diversos futebolistas do Dínamo de Kiev juntaram-se ao
exército e seguiram para a frente de batalha. Mas, a cidade de Kiev caiu frente
à Alemanha. Muitos dos jogadores do
Dínamo de Kiev que sobreviveram ao subsequente massacre da população da cidade
acabaram encarcerados em campos de prisioneiros, sendo, posteriormente
libertados por não apresentarem risco à Alemanha.
Foi
na Padaria “Número 3” de Kiev que os futebolistas eventualmente reuniram-se
para trabalhar na cidade ocupada. Tudo começou quando Mykola Trusevych,
ex-goleiro do Dínamo, retornou a Kiev após ser liberado do Campo de Darnitsa.
Ele
conseguiu um emprego de faxineiro na padaria com Iosif Kordik, fã de seu antigo
time. Kordik era o novo gerente do local, obtendo esta posição privilegiada
devido a sua origem alemã. Entusiasta dos esportes, ele teve a idéia de formar
um time de futebol próprio da padaria.
Trusevych passou então a primavera de 1942 à procura de seus antigos
colegas de equipe.
Como o Dínamo estava enclausurado e proibido de se apresentar,
deram um novo nome para aquela nova equipe.
Assim nasceu o F.C. Start, que através de contatos alemães começou a desafiar a equipes de soldados inimigos e seleções formadas no III Reich. O Start era composto por oito jogadores do Dínamo (Mykola Trusevych, Mikhail Svyridovskiy, Mykola Korotkykh, Oleksiy Klimenko, Fedir Tyutchev, Mikhail Putistin, Ivan Kuzmenko e Makar Goncharenko) e três do Locomotiva de Kiev (Vladimir Balakin, Vasil Sukharev e Mikhail Melnyk).
Assim nasceu o F.C. Start, que através de contatos alemães começou a desafiar a equipes de soldados inimigos e seleções formadas no III Reich. O Start era composto por oito jogadores do Dínamo (Mykola Trusevych, Mikhail Svyridovskiy, Mykola Korotkykh, Oleksiy Klimenko, Fedir Tyutchev, Mikhail Putistin, Ivan Kuzmenko e Makar Goncharenko) e três do Locomotiva de Kiev (Vladimir Balakin, Vasil Sukharev e Mikhail Melnyk).
Formação do F.C. Start
O
jogo de estréia da temporada foi em 7 de junho de 1942. Neste dia, o Start
jogou sua primeira partida da liga local contra o Rukh, equipe formada por
outros jogadores ucranianos. A liga em si era mantida por Georgi Shvetsov,
antigo futebolista e então técnico do Rukh. O Start venceu por 7 a 2.
Para
enfatizar o fato de que estavam jogando pela cidade, os futebolistas usavam
camisas de malha vermelhas, que Trusevich e Putsin haviam encontrado em um
depósito abandonado. Durante 1942, o Start disputou diversas partidas contra
equipes de soldados das guarnições invasoras, vencendo todas.
A
coisa começou à ficar séria quando em 17 de julho enfrentaram uma equipe do exército
alemão e golearam por 6 a 2. Muitos nazistas começaram a ficar chateados pela
crescente fama do grupo de empregados da padaria e buscaram uma equipe melhor
para ganhar deles. Trouxeram da Hungria o MSG com a missão de derrotá-los, mas
o FC Start goleou mais uma vez por 5 a 1, e mais tarde, ganhou novamente de 3 a 2 numa
revanche.
O time da Luftwaffe, Flakelf, pediu por uma
revanche.
O jogo foi disputado em 9 de agosto de 1942 no Estádio Zenit e, ao contrário de outras partidas, foi marcado pela presença maciça de policiais e tropas alemãs. Um oficial da SS foi apontado como árbitro.
Antes do jogo, ele visitou a equipe soviética em seu vestiário, alertando os futebolistas a jogar dentro das regras e, antes da partida, saudar os oponentes "à nossa moda", isto é, com a saudação nazista.
O jogo foi disputado em 9 de agosto de 1942 no Estádio Zenit e, ao contrário de outras partidas, foi marcado pela presença maciça de policiais e tropas alemãs. Um oficial da SS foi apontado como árbitro.
Antes do jogo, ele visitou a equipe soviética em seu vestiário, alertando os futebolistas a jogar dentro das regras e, antes da partida, saudar os oponentes "à nossa moda", isto é, com a saudação nazista.
Jornal da época com destaque para a fatídica partida de futebol
Mesmo reconhecendo que sua vitória poderia
render graves consequências, o Start decidiu jogar.
Ao entrar em campo, a equipe recusou-se a fazer a saudação nazista para os soldados e oficiais de alta patente reunidos no estádio.
Ao invés disto, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer: - "Heil Hitler!", gritaram - "Fizculthura!", uma expressão soviética que proclamava a cultura física.
Como previsto por eles, o árbitro ignorou solenemente os abusos cometidos pela equipe do Flakelf. O time alemão pressionou desde o princípio o goleiro Trusevych que, após sofrer repetidas faltas, foi chutado na cabeça por um atacante adversário. Aturdido pela pancada, ele deixou passar o primeiro gol do Flakelf.
Ao entrar em campo, a equipe recusou-se a fazer a saudação nazista para os soldados e oficiais de alta patente reunidos no estádio.
Ao invés disto, levaram a mão ao peito e no lugar de dizer: - "Heil Hitler!", gritaram - "Fizculthura!", uma expressão soviética que proclamava a cultura física.
Como previsto por eles, o árbitro ignorou solenemente os abusos cometidos pela equipe do Flakelf. O time alemão pressionou desde o princípio o goleiro Trusevych que, após sofrer repetidas faltas, foi chutado na cabeça por um atacante adversário. Aturdido pela pancada, ele deixou passar o primeiro gol do Flakelf.
Momento da saudação. Fizchultura!!! Bradaram os russos
O
árbitro continou a ignorar os apelos do Start contra a violência de seus
oponentes; o Flakelf pôde então prosseguir com as tentativas de intimidar os
adversários através da força física.
Apesar disso, o Start marcou seu primeiro
gol com um chute fora da área dado por Kuzmenko.
Correndo contra o final do
primeiro tempo, Goncharenko driblou toda a defesa do Flakelf antes de colocar a
bola na rede do adversário, deixando o placar em 2 a 1 para o Start. Antes do
intervalo os soviéticos ainda conseguiram marcar outro gol.
Durante
o intervalo, o Start recebeu novamente visitantes em seu vestiário.
Era
Shvetsov, pedindo que a equipe entregasse o jogo.
Ele foi seguido por outro
oficial da SS, que disse aos jogadores que os alemães estavam impressionados
com sua habilidade, mas que deveriam entender que não poderiam esperar vencer e
que, na verdade, deviam pensar nas consequências caso ganhassem a partida.
Durante o segundo tempo, cada lado marcou dois
gols.
Já no fim da partida, com o Start em posição praticamente imbatível devido ao placar de 5 a 3, Klimenko, um zagueiro, recebeu a bola, driblou a retaguarda alemã e contornou o goleiro. Então, ao invés de deixá-la cruzar a linha do gol, ele virou-se e chutou a bola de volta ao meio-campo. O árbitro soprou o apito final antes de completados os noventa minutos.
Já no fim da partida, com o Start em posição praticamente imbatível devido ao placar de 5 a 3, Klimenko, um zagueiro, recebeu a bola, driblou a retaguarda alemã e contornou o goleiro. Então, ao invés de deixá-la cruzar a linha do gol, ele virou-se e chutou a bola de volta ao meio-campo. O árbitro soprou o apito final antes de completados os noventa minutos.
Na semana seguinte ao jogo
contra os alemães (16 agosto), o Start derrotou o Rukh novamente, desta vez por 8 a 0.
Foi sua última partida.
Pouco tempo depois, todos os jogadores da equipe foram presos e torturados pela Gestapo, sob a alegação de que pertenceriam à NKVD.
Um dos presos, Mykola Korotkykh, morreu sob tortura. O restante foi enviado ao campo de trabalho de Syrets, onde Ivan Kuzmenko, Oleksey Klimenko e o goleiro Mykola Trusevich foram executados em fevereiro de 1943.
Foi sua última partida.
Pouco tempo depois, todos os jogadores da equipe foram presos e torturados pela Gestapo, sob a alegação de que pertenceriam à NKVD.
Um dos presos, Mykola Korotkykh, morreu sob tortura. O restante foi enviado ao campo de trabalho de Syrets, onde Ivan Kuzmenko, Oleksey Klimenko e o goleiro Mykola Trusevich foram executados em fevereiro de 1943.
Monumento aos Heróis - Kiev (Ucrânia)
Entre
os poucos sobreviventes após a guerra, estavam Fedir Tyutchev, Mikhail
Sviridovskiy e Makar Goncharenko, que se tornaram os responsáveis por propagar
na cultura popular soviética a história de sua histórica partida contra os nazistas.
M. Goncharenko e M. Sviridovskiy em frente ao monumento |
Na Ucrânia, os jogadores do F.C. Start hoje são heróis da pátria e seu exemplo de coragem é ensinado nos colégios. No estádio Zenit uma placa diz "Aos jogadores que morreram com a cabeça levantada ante o invasor nazista".
Fonte :
"The Match of Death: Kiev, 9 August 1942", matéria de James Riordan publicada em Soccer & Society, volume 4, edição 1, março de 2003
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