Os “Routemasters” Paulistanos
Sim!!! Em meados de setembro de 1987, São Paulo literalmente transformou-se Londres. Pelo menos no quesito transporte coletivo.
A Companhia Municipal de Transporte Coletivo (CMTC) colocou em
circulação na cidade 11 (onze) unidades de ônibus de dois andares de 4,3 metros
de altura. Eles circularam na linha 5111, no corredor de Santo Amaro.
No ano seguinte, mais 26 ônibus foram adicionados à frota – dessa vez, fabricados pela Thamco Indústria e Comércio. Tal qual os londrinos, todos esses 37 ônibus foram pintados de vermelho.
Em cada um deles cabiam 112 passageiros (os convencionais
comportam atualmente 75, e os articulados, 120).
Como temos a rotina de apelidar quase tudo, o nosso busão duplo ganhou um apelido: “Fofão” (devido a seus cantos arredondados). SQN! Na verdade, seu apelido mais forte e o que mais pegou na capital paulista foi de “Dose Dupla” – em parte por ter dois andares e em parte como forma de homenagear o famoso e refinado gosto do então prefeito por whisky escocês.
O interior superior de um dos nossos Routemasters
A novidade, entretanto, não passou de uma breve experiência da prefeitura, que foi logo descartada: em 1993, os nossos “Routemasters”,
que viviam se enroscando nos cabos de força dos trólebus, foram tirados de
circulação e vendidos em leilões públicos.
A falta de planejamento urbano na
cidade de São Paulo talvez tenha determinado o fracasso da frota: Viadutos
baixos, fiação elétrica e poucos profissionais qualificados para dirigir esses
ônibus tornaram o projeto de Jânio Quadros – que era claramente político –
inviável.
Jânio Quadros
Quanto à acessibilidade, os problemas ficaram no passado: Os
double-deckers modernos já têm a altura do degrau de embarque adequada e
espaços baixos para abrigar usuários de cadeiras de roda.
Hoje em dia, poucos
remanescentes dos "Routemasters" brasileiros ainda existem: Um está no Museu do Transporte, na zona Norte de São
Paulo (Aberto de 3ª-feira a domingo, das 9h às 17h. A entrada é franca). E a empresa Caprioli de Campinas conserva outras
3 (três) unidades em sua frota e os utiliza em eventos.
* * *
Transportes
de dois andares existem em Londres desde os anos 1850.
As charretes puxadas a
cavalo já eram assim.
E os ônibus começaram a aparecer em 1910, inicialmente
abertos no andar de cima. Em 1956, surgiram os Routemasters – nome da fábrica
mais conhecida –, que consolidaram o utilitário como um símbolo londrino.
A
partir de 1981, os Routemasters foram sendo substituídos por veículos mais
modernos.
Em dezembro de 2005, os últimos remanescentes do modelo inicial foram
tirados de circulação.
A pressão da população acabou convencendo o governo a
lançar uma nova linha do nostálgico Routemaster.
Visão interna superior de um antigo Routemaster
Prometidos desde 2008, ele
voltaram para as ruas londrinas. O “New Routemaster” como é conhecido, mais moderno,
que comporta 62 pessoas sentadas, custa 1,4 milhão de libras por unidade.
Na época, o prefeito da cidade, Boris Johnson, declarou que a decisão de adicionar esses
novos ônibus à frota da cidade não foi meramente estética: eles são mais
ecológicos, consumindo metade do combustível usado por um ônibus comum. Hoje em dia, já está em uso diário em várias linhas.
Projeto de um "New Roadmaster"
Além do modelo "futurista" da foto mais acima, outros modelos foram inseridos na malha de transporte:
Porém, o mais visualmente impactante continua sendo o novo Routemaster:
Interior superior do Novo Routemaster
Mas quem vai
a Londres tem também a chance de andar em uma réplica do antigo double-decker
em passeios turísticos pelos pontos principais da cidade, oferecidos por
empresas do ramo.
Escadaria do novo modelo
Outras trabalham com a locação dos utilitários para eventos:
a empresa "This Bus" aluga antigos Routemasters para os casais londrinos celebrarem
casamentos...
... Bem como também poderá encontrar um simpático destes antigos ônibus convertido em um charmoso bar:
... Ou ainda como uma lembrancinha...
O fracasso dos Routemasters originais estava diretamente ligada à
sua dependência de cobradores: “Com a privatização do sistema de ônibus de
Londres, buscou-se reduzir o custo das operações, dando controle ao motorista
para cobrar as tarifas”.
Com os antigos Routemasters, isso não seria possível:
o motor do ônibus ocupava grande parte de sua parte dianteira, não permitindo o
embarque de passageiros pela frente.
Obrigado pela visita, e até a próxima!
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