M.S. Wilhelm Gustloff
O maior desastre marítimo da história mundial
Quando pensamos no termo "naufrágio", ou "acidente marítimo", um dos primeiros episódios que nos vem à cabeça, é com certeza o ocorrido com o Titanic, em 1912.
Entretanto, quem imagina que este foi o maior acidente, engana-se redondamente...
Entretanto, quem imagina que este foi o maior acidente, engana-se redondamente...
No rigor do inverno de 1945, bem no final da 2ª Guerra Mundial, um navio alemão que transportava milhares civis refugiados da guerra, o M.S. Wilhelm Gustloff, foi afundando por um submarino soviético nas águas do Mar Báltico. Quase todos os que estavam à bordo pereceram afogados ou devido a hipotermia provocada pela baixíssima temperatura do mar. O número de vítimas foi tão grande – é tido como o maior naufrágio civil do mundo - que superou em muito as vítimas do transatlântico Titanic, cujo afundamento ocorreu em 1912, sem porém, que provocasse a mesma comoção...
O M.S. Wilhelm Gustloff foi um navio transatlântico alemão. Foi assim batizado em homenagem ao líder do NSDAP da Suíça. Ao final da Segunda Guerra Mundial, em uma missão para ajudar as multidões de alemães que fugiam do cerco do Exército Vermelho no Leste, foi atingido por três torpedos soviéticos, vindo a afundar no Mar Báltico em 30 de janeiro de 1945. Transportava à bordo cerca de nove mil e seiscentos passageiros civis, para além de cerca de mil tripulantes. Representa, até hoje, um dos maiores desastres navais de todos os tempos.
Foi construído nos estaleiros Blohm & Voss, de Hamburgo, para a Kraft durch Freude (KdF) (Força pela Alegria), uma organização civil que promovia atividades culturais e recreativas, incluindo concertos e outras festividades para os trabalhadores alemães de todas as classes.
Os trabalhos iniciaram-se em 1 de Maio de 1936 e o lançamento ao mar ocorreu em 5 de Maio de 1937, seguindo-se as operações de apetrechamento e finalmente a entrega final à KdF, o que aconteceu em 15 de Março de 1938, sendo Carl Lubbe o seu primeiro comandante.
Conforme o projeto original, o navio deslocava 25.484 toneladas à velocidade de 15 nós e tinha capacidade para 1.463 passageiros e 417 tripulantes, ou seja, havia capacidade para 1.880 passageiros no total.
Em 4 de Abril de 1938, em uma de suas primeiras viagens, efetuou, sob péssimas condições de mar, o salvamento da tripulação de um cargueiro britânico - o S.S. Pegaway - com grande repercussão na imprensa britânica.
Em 20 de Abril de 1938, partiu, junto com outros navios da frota KdF para a viagem inaugural como navio de cruzeiro rumo ao Arquipélago da Madeira, com escala em Lisboa.
O tamanho do navio, o luxo sóbrio e o fato de permitir viagens em classe única para todos, impressionou à época. Os fiordes noruegueses, tal como Lisboa e o Funchal, na Madeira, tornaram-se destinos periódicos.
O navio efetuou cerca de cinqüenta viagens em tempo de paz, transportando aproximadamente 70.000 passageiros, sempre com grande sucesso.
Em 25 de Maio de 1939, colaborou, junto com outras unidades da KdF, no repatriamento da Legião Condor após o fim da Guerra Civil Espanhola.
Com o início da Segunda Guerra Mundial foi transformado em navio-hospital, colaborando na evacuação de feridos da Polônia e, mais tarde, efetuando o mesmo trabalho após a invasão da Dinamarca e Noruega pelas tropas alemãs, de Oslo.
Em 17 de Novembro de 1940 foi transferido para Gotenhafen (hoje, Gdynia) e colocado fora de serviço como navio-hospital, passando a navio-alojamento em 20 de Novembro de 1940.
Em Janeiro de 1945, Adolf Hitler e Donitz reconhecendo a situação militar insustentável na Prússia Oriental, elaboraram um plano de evacuação por mar - A Operação Hannibal - na qual o Wilhelm Gustloff partindo de Gotenhafen evacuaria muitos milhares de refugiados que se acumulavam na cidade.
Numa daquelas noites prussianas gélidas do norte europeu, mais precisamente em 30 janeiro de 1945, com o termômetro marcando 10° abaixo de zero, o ex-cruzeiro de luxo alemão M.S. Wilhelm Gustloff, de 25 mil toneladas - desde 1940, transformado em hospital flutuante, projetado para levar no máximo duas mil pessoas, embarcava naquele momento mais de nove mil, a maioria mulheres e crianças que fugiam da invasão russa.
O Exército Vermelho vinha, por assim dizer, nos "calcanhares deles", seguindo a mesma rota que os seus antepassados mongóis, no século 13, usaram para atingir o Ocidente. Os que escapavam eram civis alemães que até então moravam na Prússia Oriental e nos Estados Bálticos que, apavorados, fugiam pelo Golfo de Danzig da vingança dos soviéticos.
O Exército Vermelho vinha, por assim dizer, nos "calcanhares deles", seguindo a mesma rota que os seus antepassados mongóis, no século 13, usaram para atingir o Ocidente. Os que escapavam eram civis alemães que até então moravam na Prússia Oriental e nos Estados Bálticos que, apavorados, fugiam pelo Golfo de Danzig da vingança dos soviéticos.
Comandado por Friederich Petersen e Wilhelm Zahn e com uma tripulação de recurso, apesar de imobilizado no porto há quatro anos, servindo como quartel, este recebeu a bordo cerca de nove mil e seiscentos refugiados, que se juntaram a cerca de mil tripulantes, saindo do porto de Gotenhafen nesta mesma noite de 30 de Janeiro de 1945.
Os que iam a bordo não tinham a mínima idéia que seriam os protagonistas da maior tragédia marítima de todos os tempos, quase superior em seis vezes as vitimas do transatlântico Titanic, naufrágio ocorrido 32 anos antes (1.517 mortos).
Após sair da Baia de Gdansk e contornar o cabo, seguia em uma rota limpa pela Kriegmarine, na qual estava também o cruzador de batalha Admiral Hipper, além de uma flotilha de z-boots e caça minas, quando caiu a noite densa, foi avistada da ponte de comando do Wilhelm Gustloff uma flotilha de caça minas que navegava em sentido contrário, sendo então dada a ordem para que fossem acesas as luzes de navegação.
Este foi o erro fatal, já que o submarino soviético S-13 comandado pelo capitão Alexander Marinesko, avistou também a luzes quando patrulhava a costa polonesa.
Este foi o erro fatal, já que o submarino soviético S-13 comandado pelo capitão Alexander Marinesko, avistou também a luzes quando patrulhava a costa polonesa.
Alexander Marinesko estava sob investigação do NKVD por ter cometido faltas e erros crassos por sua dependência química em álcool e, quando foi avisado pelo operador de periscópio de que uma grande "belonave" inimiga havia sido avistada, viu ali a sua esperança de um grande feito.
Determinou então que quatro torpedos fossem preparados e lançados, no primeiro escreveram "Para a Pátria", no segundo, "Para Stálin", no terceiro, "Para o povo soviético" e no quarto, "Para Leningrado".
Determinou então que quatro torpedos fossem preparados e lançados, no primeiro escreveram "Para a Pátria", no segundo, "Para Stálin", no terceiro, "Para o povo soviético" e no quarto, "Para Leningrado".
As rotas do Wilhelm (em vermelho) e do S-13 (em preto) |
Ironicamente, somente o torpedo para Stálin perdeu seu rumo, tendo todos os demais atingido o Wilhelm Gustloff na proa, abaixo da piscina e a meia nau, em pleno Báltico. Em pouco tempo,o navio começou a virar rapidamente para bombordo, dificultando o preenchimento e a arriação dos botes.
A multidão que se agarrava no convés começou a ser jogada na água. Outros, apavorados, saltavam diretamente lá do alto. A gritaria no convés era acompanha de tiros dos que preferiam suicidar-se ou atirar nos familiares antes. Os soldados feridos, imobilizados, despediam-se uns dos outros.
Enquanto isso, no convés, os tripulantes estavam fazendo desesperadamente o sinal de código morse por faróis e lançando foguetes sinalizadores para os navios próximos. No pânico que se seguiu, alguns refugiados acabaram pisoteados quando todos corriam para os botes salva-vidas.
Como distribuir os parcos botes salva-vidas para mais de nove mil passageiros, sendo que muitos deles estavam cobertos de gelo?
O S.O.S foi lançado e aos poucos começaram a chegar os auxílios.
Pouco tempo depois,o navio estaria completamente virado,com as pessoas tentando se salvar, ficando na lateral do navio. Somente os navios caça-minas e os z-boots acudiram ao sinistro, pois o Admiral Hipper afastou-se, com medo do S13.
O Wilhelm Gustloff afundou uma hora e dois minutos depois de atingido, às 22h18 do dia 30 de janeiro de 1945.
Os faróis dos barcos e das lanchas de socorro passaram a noite inteira em busca de sinais de vida, enquanto corpos, milhares deles, vagavam sem destino em meio aos blocos de gelo, boiando salpicados de neve. Os que conseguiam ser resgatados estavam enregelados, as mãos azuladas e encarangadas e o olhar petrificado.
O Cruzador Alemão "Admiral Hipper" |
Ao amanhecer as equipes de salvamento haviam retirado 1.239 náufragos (outros artigos reduzem-nos para 996) daquele horror. A situação só não foi pior porque eles estavam próximos ao litoral da Pomerânia.
Segundo pesquisas mais recentes, havia no navio 10.582 pessoas, onde das vítimas, cerca de 4.000 eram crianças e adolescentes, além de muitos soldados feridos e refugiados de guerra. O número exato de mortos é difícil de ser estabelecido, mas estima-se que morreram entre 8.500 e 9.600 pessoas.
Representação artística de como o Wilhelm foi encontrado no fundo do mar |
Os submarinos soviéticos continuaram por perto praticando a caça e, dez dias depois, afundaram também o General Von Steuben (3 mil mortos) e ainda, em 16 de abril de 1945, puseram a pique o Goya (cerca de 7 mil, a maioria soldados).
Portanto, em matéria de matança de civis o M.S. Wilhelm Gustloff realmente empunhou a taça da desgraça.
Se bem que a operação de remoção do maior número possível de civis alemães orientais foi tida como um sucesso, pois conseguiram o translado de 2 milhões deles para fora da órbita soviética.
A tragédia daquele barco de turismo adaptado às pressas para uma fuga desesperada, perdurou no tempo como um desastre que poderia ter sido evitado, não fosse o clima de revanche que embalava os soviéticos.
Revanche que se estendeu para os maus tratos da grande parte da população civil do leste da Alemanha, com ondas de estupros, pilhagens, saques, desordens, espancamentos e brutalização geral dos vencidos.
Revanche que se estendeu para os maus tratos da grande parte da população civil do leste da Alemanha, com ondas de estupros, pilhagens, saques, desordens, espancamentos e brutalização geral dos vencidos.
Na época dizia-se que tal atrocidade era "merecida". Que os alemães haviam se portado do mesmo modo quando adentraram na URSS em 1941. Quem começou a reverter esta opinião entre eles, foi Alexander Soljenitsine.
Cada vez mais furioso com o regime comunista, Soljenitsine que fez parte das tropas de ocupação – era oficial de artilharia - pessoalmente testemunhou as atrocidades que seus conterrâneos haviam cometido.
Envergonhado, acabou por denunciar aqueles horrores num longo poema intitulado Prosskie Nochi (Noites Prussianas, 120 páginas, 1974), revelando à opinião pública da então URSS, o que de fato acontecera na Alemanha naqueles meses de conquista e ocupação, quando pelotões inteiros de soldados russos submetiam as alemãs, dos oito aos sessenta anos, a estupros coletivos, cortando o pescoço daquelas que resistiam ou se lhes opunham.
Ele acreditou que tudo aquilo decorreu - que deu-se tal roteiro de atrocidades, devido os comunistas “terem afastado a Rússia de Deus”, retirando do soldado raso, dos "Ivans" que passaram a acampar na Alemanha, qualquer sentimento de piedade ou compaixão para com os derrotados.
Ao contrário, incitou-os aos barbarismos a pretexto de estarem lutando contra o decadente mundo burguês em sua forma fascista.
E ressaltou que o um dos episódios iniciais, foi, justamente, o afundamento do Wilhelm Gustloff e suas quase 9.000 vítimas civis, inocentes.
E ressaltou que o um dos episódios iniciais, foi, justamente, o afundamento do Wilhelm Gustloff e suas quase 9.000 vítimas civis, inocentes.
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