quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Projeto VKK BURAN

Quando falamos em ônibus espacial, o primeiro pensamento, ou a primeira imagem que vem à cabeça é com certeza, com relação aos projetos americanos. Challenger, Atlantis, Discovery...

Podemos até lembrar que a antiga URSS também participou ativamente da corrida espacial, mas em um primeiro momento não nos ocorre imaginar algo além dos foguetes ou espaçonaves convencionais. 

Ah, mas não... Os Russos tiveram seu projeto de ônibus Espaciais:

BURAN, o Ônibus Espacial Soviético

Buran (em russo Буран <nevasca>), é o nome designado para uma série de onze ônibus espaciais construídos pelo programa espacial da União Soviética, parte do denominado programa "Buran-Energia".

O primeiro da série foi inicialmente denominado Buran 1.01, sendo a primeira nave espacial reutilizável soviética, ou VKK (Vosdushno Kosmicheski Korabl).

A construção do Ônibus Espacial Russo foi uma resposta ao projeto do Ônibus Espacial (Space Shuttle), da agência espacial dos EUA (Nasa), que concebeu os veículos espaciais reutilizáveis.


Para a URSS, o projeto americano tinha a finalidade de portar armas nucleares, e contava com a capacidade única de poder fazer manobras no espaço, mudando o rumo e permitindo ataques e revides imprevisíveis ao inimigo. Essa capacidade precisaria ser igualada à qualquer custo, pela União Soviética.

Organograma estrutural do Buran

Visão parcial interna da cabine de comando
Apesar do ceticismo em relação a concepção do veículo reutilizável pela sua indústria aeroespacial, o governo soviético autorizou a construção de um ônibus espacial em 1976.

Porém, a construção do veículo só começou em 1980. 

Em julho de 1983 foi feito o primeiro teste, num voo suborbital. Nos anos seguintes, foram feitos cinco voos com o modelo em escala do Buran. Em 1984 foram feitos os primeiros testes aerodinâmicos. O último teste aerodinâmico foi feito em abril de 1988, completando 24 voos de testes. 

Abaixo, um vídeo com um breve "briefing" do projeto, em russo, mas que vale à pena pelas imagens :

Briefing do projeto Buran

O Buran só foi ao espaço duas vezes: em um vôo suborbital de julho de 1983, e  posteriormente, no dia 15 de novembro de 1988. 

Ele foi impulsionado pelo poderoso foguete Energia, partindo do Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão. O vôo foi totalmente automático e sem astronautas, guiado por controle remoto e pelo sistema de computadores. O sistema de sustentação do ônibus espacial não foi testado, o que obrigou os engenheiros a realizarem um voo sem tripulação.

Lançamento do Buran, através do foguete Energia. Cazaquistão, Nov/1988.
A duração da missão foi de somente 1 hora e meia, tempo em que completou duas órbitas em torno da Terra. 

Representação artística do lançamento
O veículo ficou a uma distância de 256 quilômetros da superfície terrestre. O curto vôo foi o resultado da pouca capacidade de memória dos computadores do Buran. O software estava programado para controlar o lançamento, as atividades em órbita e o pouso. A limitação obrigou os engenheiros a programar o veículo espacial a realizar somente duas voltas em torno da Terra.

Apesar do primeiro vôo não ter sido tripulado, o desempenho da nave causou otimismo no programa espacial soviético. Das 38 mil placas protetores de calor que protegiam o Buran, somente 5 se desprenderam do veículo.

O Buran retornando do Vôo de 1988.
Porém, em contrapartida ao otimismo, o financiamento para o projeto espacial foi cortado. 

Apesar do projeto só ter sido cortado oficialmente em 1993 pelo presidente russo Boris Yeltsin, o trabalho para a construção dos veículos já havia sido paralisado bem antes dessa data. Outros 3 (três) veículos estavam em construção. O Ptichka (pássaro pequeno, em russo) foi programado para ser concluído em 1990. Um outro estava programado para ser concluído em 1992.

Comparativo entre os projetos Russo e Americano
O programa VKK foi oficialmente encerrado em 1995.

O Buran 1.01 foi mantido no hangar MIK 112 do Cosmódromo de Baikonur até Maio de 2002 quando, devido ao sucateamento, falta de manutenção e total abandono, o hangar desmoronou sobre o Buran destruindo-o.

Entrada do Cosmódromo de Baikonur
Vídeo de vôo experimental do Buran acoplado em um Antono AN225 Mriya:


Restaram do programa, então, 2 (dois) protótipos que foram recentemente restaurados do Cosmódromo de Baikonur: O primeiro protótipo denominado OK-TVA foi restaurado e hoje forma um pequeno museu sobre o programa espacial soviético, sendo um das principais atrações do Gorky Park, em Moscou.

Protótipo OK-TVA em Moscou
Em 2008 um terceiro protótipo do Buran, o Buran 2.01, que estava na fábrica de Tushino, em Moscou, foi adquirido pelo museu de Sinsheim (Alemanha), onde será preservado.

Lembrando que, diferentemente do Buran 1.01, estes protótipos acima citados NUNCA foram ao espaço. Só realizaram testes gravitacionais e similares.

O Protótipo OK-GLI

Faltou falar do destino do segundo protótipo, o OK-GLI.

Protótipo OK-GLI na Rússia em 1987.

Uma equipe da TV de Düsseldorf (Alemanha), foi ao Barhein em agosto de 2004 para cobrir a etapa do campeonato de Fórmula-1 e acidentalmente soube de rumores de que havia na cidade uma espaçonave russa abandonada.

Como não poderia deixar de acontecer, a curiosidade tomou conta dos jornalistas e o pessoal decidiu procurar o local exato e, ao chegar lá, se depararam com esta cena grandiosa:



O achado precioso tratava-se da versão OK-GLI do Buran, apelidada de “Tempestade de Neve”. A espaçonave encontrada não foi aquela que foi ao espaço (Buran 1.01) e sim um dos protótipos que os russos construíram especialmente para conduzir testes aerodinâmicos e de pouso. 

Ao contrário da versão de testes do Space Shuttle americano, que era catapultada de um Boeing 747 na estratosfera, este Buran era dotado de motores próprios e tinha capacidade para decolar com seus próprios recursos.

O Produtor da Equipe de TV "posa" na cabine do protótipo

Este protótipo do Buran viajou bastante antes de encontrar o seu destino final.

Ele foi adquirido por um museu e levado para a Austrália em 2000. 

Em 2003 ele foi comprado por um Xeique do Barhein e levado para o golfo pérsico, talvez, no intuito de servir como uma atração à mais para o público que comparece anualmente à etapa da F-1 realizada naquele país.

Mas a verdade é que o OK-GLI jamais entrou em exposição no Barhein e ficou armazenado por 2 anos  em um depósito nos arredores da cidade, e foi encontrado pela equipe de TV. Depois disso foi finalmente arrematado pelo Museu Tecnológico de Speyer, Alemanha.


Imagem: Um helicóptero sobrevoa a balsa que transporta o Ônibus Espacial Buran (OK-GLI) durante a sua longa viagem rumo ao sul da Alemanha através do Rio Reno. Esta foto foi tirada em 08/04/2008 por ocasião da passagem do gigantesco séquito pela cidade de Düsseldorf, Alemanha. Foi a  maneira  mais fácil que os novos donos encontraram para transportar o artefato.

Outro ângulo: Ainda no Rio Reno em Düsseldorf e Colônia, Alemanha.

Passagem nas ruas da cidade de Speyer, Alemanha.

Atualmente, o Buran OK-GLI é o único ônibus espacial legítimo à disposição do público no mundo. A espaçonave levou meses para ser reformada estreou a galeria aeroespacial do Museu de Speyer em 03/10/2008. 

Chegada no seu destino final: Museu de Speyer, Alemanha.
Já devidamente alocado no seu local de exposição no museu.
Uma criança, brincando na cabine de Comando do OK-GLI em Speyer.

Se um dia você viajar à Alemanha, não se esqueça de dar uma passadinha no Technik Museum de Speyer para se extasiar diante desta maravilha tecnológica que sobrou do império soviético.

Tributo: Parte da Equipe do Projeto VKK-Buran, em foto da época.

Me despeço agradecendo sua visita, como sempre... VALEU !!!

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