terça-feira, 31 de maio de 2011

O incidente Dyatlov Pass

O Incidente de Dyatlov Pass

Foi um evento misterioso que resultou na morte de nove esquiadores ao norte dos montes Urais, na noite de 02 de fevereiro de 1959. Ocorreu na face leste da montanha Kholat Syakhl (Холат Сяхл) (Montanha da Morte em português).


Antecedentes

Um grupo foi formado para empreender uma jornada de esqui ao norte dos Urais, em Sverdlovsk Oblast (Свердловская область). O grupo, liderado por Igor Dyatlov, era composto por oito homens e duas mulheres. A maioria eram de estudantes ou graduados do Instituto Politécnico de Ural (Уральский Политехнический Институт, УПИ), hoje,  Ural State Technical University.

Composição do Grupo:

Igor Dyatlov (Игорь Дятлов), o líder do grupo.
Zinaida Kolmogorova (Колмогорова Зинаида)
Lyudmila Dubinina (Дубинина Людмила)
Alexander Kolevatov (Александр Колеватов)
Rustem Slobodin (Рустем Слободин)
Yuri Krivonischenko (Юрий Кривонищенко)
Yuri Doroshenko (Юрий Дорошенко)
Nicolai Thibeaux-Brignolle (Николай Тибо-Бриньоль)
Alexander Zolotarev (Александр Золотарёв)
Yuri Yudin (Юрий Юдин)

Foto do grupo em Vizhai (26/27 Janeiro 1959)

O objetivo da expedição era chegar ao Otorten (Отортен), uma montanha à cerca de 10 km ao norte do local do incidente. Esta rota, naquela época, foi caracterizada como "categoria III", sendo uma das categorias  mais difíceis. Mas, todos os membros eram experientes em longos passeios de esqui e expedições de montanha.

Mapa assinalando local do evento

O grupo chegou à Ivdel (Ивдель), uma cidade no centro da província de Sverdlovsk Oblast, em 25 de janeiro.  Rumaram para Vizhai (Вижай) – último reduto de civilização da região, próxima do local do evento.  Eles começaram sua marcha em direção ao Otorten em 27 de janeiro. No dia seguinte, um dos membros (Yuri Yudin) foi obrigado à desistir da expedição e  voltar, por ter se adoentado. O grupo contava agora, com nove pessoas.


Yuri Yudin abraçando Lyudmila Dubinina, pouco antes da partida de Vizhai, com Igor Dyatlov mais ao lado

Através de diários e câmeras encontrados em torno do último acampamento foi possível rastrear o percurso do grupo até o dia anterior ao incidente.

Mais um registro antes da partida do grupo

Em 31 de janeiro, o grupo chegou à beira de uma zona de montanhas e começou a se preparar para a escalada.  

O Grupo em uma parada durante a expedição fatídica.

No dia seguinte (01 de fevereiro), os caminhantes começaram a se mover através da passagem. Planejavam montar acampamento no lado oposto, mas por causa da piora das condições meteorológicas,  e a gradativa diminuição de visibilidade , eles perderam a direção e desviaram em oeste, para cima e em direção ao topo da montanha Kholat Syakhl.

Imagem resgatada em uma das câmeras: O grupo em deslocamento...

Quando eles perceberam o erro, decidiram parar e montar o fatídico acampamento na encosta da montanha.


AS  BUSCAS

Havia um prévio acordo em que Dyatlov enviaria um telegrama ao seu clube desportivo, logo que o grupo retornasse à Vizhai. Atrasos em expedições do tipo eram bem comuns na época, e com isso esperava-se que somente após 12 de fevereiro, tal telegrama fosse despachado.

Mas, quando esta data passou e depois, mais alguns dias e nenhuma mensagem foi recebida, iniciaram-se dúvidas sobre os expedicionários.

Os familiares dos esquiadores solicitaram uma operação de resgate, o que em primeiro lugar, foi composta por estudantes voluntários e professores, em 20 de fevereiro.

Primeira inserção de resgate, com voluntários e professores.

Mais tarde, o exército e forças policiais envolveram-se, com aviões e helicópteros para participar da operação de resgate.

Em 26 de fevereiro, foi encontrado o acampamento abandonado na montanha Kholat Syakhl.


A tendas foram seriamente danificadas. 

Uma série de pegadas poderiam ser seguidas, levando para baixo em direção à margem da mata nas proximidades (no lado oposto do acampamento, cerca de 1,5 km ao nordeste).

Tecidos rasgados das tendas

Na borda de entrada para a floresta, sob um grande e velho pinheiro , os pesquisadores encontraram os restos de um incêndio, junto com os dois primeiros corpos, os de Krivonischenko e Doroshenko, descalços e vestidos apenas com suas roupas íntimas.


Imagens do local onde foram encontrados vestígios de incêndio
 
Entre a floresta e o campo onde estava o acampamento, os pesquisadores encontraram mais três cadáveres: Dyatlov, Kolmogorova e Slobodin, que pareciam  ter morrido em poses que sugerem que eles estavam tentando, desesperadamente,  voltar para o acampamento.

Eles foram encontrados equidistantes em 300, 480 e 630 metros do grande pinheiro queimado.

O resgate dos quatro esquiadores restantes levou mais de dois meses. Eles foram finalmente encontradas em 04 de maio, em uma ravina em um  vale mais para o interior da floresta.

Material danificado encontrado no acampamento abandonado

INVESTIGAÇÕES

Um inquérito oficial se iniciou logo após o encontro dos primeiros cinco corpos.

Um exame médico não encontrou qualquer lesão que poderia ter levado à morte, e conclusão, inicial fora que todos  tinham sucumbido de hipotermia. 

Um dos corpo apresentava uma pequena rachadura em seu crânio, mas que foi totalmente descartado como sendo um ferimento de cunho fatal. 

 
Entretanto, os exames realizados nos quatro corpos que foram encontrados, posteriormente, em maio, mudou tudo.

Três deles apresentaram ferimentos fatais: o corpo de Thibeaux-Brignolle apresentou danos significativos e maiores no interior do crânio,  e ambos, Dubunina e Zolotarev tinham no peito enormes fraturas. Os  médicos estimaram que a força necessária para causar tal dano teria de ser muito alta. Um perito comparou tal força à proporcionada por um acidente de carro.  

Notavelmente, os corpos não apresentavam ferimentos ou qualquer marca ou hematomas externos, como se tais fraturas fossem causadas por um nível elevado de pressão corporal interna.

Anotações Forenses sobre o caso.

Uma das mulheres  foi encontrada sem sua língua.  Por isso, chegou-se à especular que tribos de aldeões  locais, os Mansi, poderiam ter atacado e assassinado o grupo pela invasão de suas terras, mas, a investigação derrubou esta hipótese pela natureza das mortes.
 
No local do incidente, somente as pegadas dos esquiadores eram visíveis, e não havia nenhum sinal de combates corporal.

Equipe de busca, vasculhando o local
As evidências apontam que a equipe foi obrigada a deixar o campo durante a noite, enquanto dormiam.

Embora a temperatura fosse muito baixa no momento, em torno de -25° a -30°C, inclusive com uma tempestade de neve e vento, os mortos estavam vestidos apenas parcialmente. Alguns deles estavam apenas com um sapato, enquanto outros não tinham nada e usavam somente meias.

Mais um registro da equipe de buscas no local

Partes do Inquérito investigativo:

-Seis dos integrantes do grupo morreram de hipotermia e três de lesões fatais.

-Não foram encontrados quaisquer vestígios de presença de outras pessoas no local, somente dos esquiadores sinistrados.

-Todas as barracas foram rasgadas de dentro para fora.

Barraca montada no local da investigação Forense

-As vítimas morreram entre 6 à 8 horas após a sua última refeição.

-Evidências no acampamento mostram claramente que todos os membros do grupo deixaram o campo por sua própria iniciativa, a pé.

-Para dissipar a teoria de um ataque dos Mansi, além da falta de provas da presença de outras pessoas à não ser o grupo sinistrado, um médico atestou que –“Os ferimentos mortais dos três corpos não poderiam ter sido causado por outro ser humano”, porque a força dos golpes foram de força extrema  e não ocasionou danos na parte externa dos tecidos, sem que ele pudesse teorizar racionalmente isto.

-Testes de Radiação Forense mostraram altas doses de contaminação na roupa de algumas das vítimas.

Ravina (foto atual) onde foram encontrados os outros quatro esquiadores

O veredicto final apresentado foi que os membros do grupo morreram por causa “de uma força desconhecida e propulsora”.  

O inquérito foi fechado oficialmente em maio de 1959, devido à "ausência de um culpado"

Todo material do inquérito foi enviado para um arquivo secreto, e algumas das cópias do processo tornaram-se disponíveis apenas na década de 1990, com várias peças e relatórios faltando.

Conseqüências

Em 1967, o escritor e jornalista Yuri Yarovoi (Юрий Яровой) publicou o romance intitulado "do mais alto nível de complexidade" ("Высшей категории трудности"), que foi inspirado por este incidente.

Yarovoi fez parte nas buscas do grupo de Dyatlov e do inquérito, inclusive, atuando como fotógrafo oficial da campanha de buscas e na fase inicial do inquérito, e por isso teve uma visão parcial sobre os acontecimentos.  Desde a morte de Yarovoi em 1980,  todos os seus arquivos, incluindo fotos, diários e manuscritos, foram perdidos.

Alguns detalhes da tragédia tornaram-se acessíveis ao público em 1990, devido às publicações e debates na imprensa regional de Sverdlovsk.
 
Um dos primeiros autores foi o jornalista Anatoly Guschin (Анатолий Гущин).

Guschin informou que os policiais lhe deram permissão especial para estudar os arquivos originais do inquérito e da utilização desses materiais em suas publicações. Ele observou que um certo número de páginas foram excluídas dos arquivos, assim como um "envelope" misterioso mencionado na lista de materiais do caso.

Guschin resumiu seus estudos no livro "O preço de segredos de Estado é de nove vidas" ("гостайны Цена - девять жизней").  

Alguns pesquisadores criticaram-no devido à sua concentração na teoria especulativa de uma "arma experimental secreta soviética" , mas a publicação suscitou uma discussão pública, estimulada pelo interesse no caso . 

Infograma detalhando o incidente Dyatlov

Na verdade, muitos dos que permaneceram em silêncio por mais de 30 anos, resolveram  relatar fatos novos sobre o acidente.

Um deles foi o ex-policial Lev Ivanov (Лев Иванов), que conduziu o inquérito oficial, em 1959. Em 1990 ele publicou um artigo, juntamente com sua veêmente admissão de que a equipe de investigação não tinha nenhuma explicação racional para o ocorrido. Ele também informou que recebeu ordens diretas de altos funcionários regionais para fechar o inquérito e manter seus materiais em segredo.  Ivanov, pessoalmente, acredita em uma explicação paranormal - especificamente, os OVNIs. Foram relatados, por habitantes de cidades no entorno dos Urais, que naqueles dias, eclodiu a notícia de vários  avistamentos de luzes estranhas e diferentes nos céus na região.


Em 2000, uma empresa de televisão regional produziu o documentário "Dyatlov Pass" ("Дятлова Перевал"). 

Uma escritora da cidade de Yekaterinburg, Anna Matveyeva (Матвеева Анна), publicou um romance de ficção/ documentário do mesmo nome.  Uma grande parte do livro inclui citações oficiais do caso, trechos dos diários das vítimas, entrevistas com pesquisadores  e outros documentários recolhidos também pelos cineastas.


Imagens da Passagem Dyatlov nos dias atuais


Apesar da presença de uma narrativa em parte ficcional, o livro de Matveyeva continua à ser a maior fonte de material e documental disponível ao público. 

A Fundação Dyatlov foi fundada em Yekaterinburg (Екатеринбург), com o apoio do Ural State Technical University.  O objetivo da fundação é convencer autoridades russas à reabrir o inquérito sobre o caso, e para manter o "Museu Dyatlov" com intuito de perpetuar a memória dos esquiadores mortos.
Yuri Yudin, o único sobrevivente da expedição, declarou: -"Se eu tivesse a chance de estar com Deus e pudesse fazer apenas uma pergunta, esta seria: O que realmente aconteceu com os meus amigos naquela noite? “

Memorial aos Esquiadores do Dyatlov Pass

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