terça-feira, 23 de outubro de 2012

Missão Cruls

Neste período, o blog está postando assuntos relacionados à Brasília. Antes de apresentar quaisquer outras matérias sobre a Capital Federal, um assunto primordial tem que ser lembrado...

Eles semearam a nova capital...

Em 1763, ainda no Período Colonial, o Brasil passou a ter uma nova capital: a cidade do Rio de Janeiro (anteriormente, era Salvador).

Entretanto, naquele mesmo século, circulava a idéia de levar a capital para o interior da colônia, por motivos de segurança nacional e retirando o centro do poder da região litorânea. Entre as cidades cogitadas para se tornar a nova capital, estavam as mineiras São João Del Rey e Paracatu e ainda a goiana Formosa.

<<< José Bonifácio. Defendia a instalação da nova capital  do país em Paracatu/MG.

Já na fase imperial da história brasileira, o próprio Patriarca da Independência, José Bonifácio, defendia a transferência da capital para a mineira Paracatu.

Mas a mudança só começou a sair do papel em 1891, quando essa alteração foi colocada na própria Constituição Brasileira, que determinava a reserva de uma área de 14.400 quilômetros quadrados para abrigar a nova capital.

Estava dado o pontapé inicial para a construção de Brasília.

Presidente Floriano Peixoto  >>>

Em 1892, o presidente Floriano Peixoto formou a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, que ficou conhecida como Missão Cruls e demarcou a localização atual de Brasília.

Aliás, o presidente Floriano Peixoto fez mais do que "cumprir" o dispositivo constitucional que determinava a mudança da capital, sem fixar prazo ou urgência — sua mensagem ao Congresso destacava a "necessidade inadiável" da mudança.


Em 1892, o Congresso aprovou a criação da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, formada pelo engenheiro belga e estudioso de Geografia e Astronomia Louis Ferdinand Cruls, que chegou ao Brasil em 1874 (seduzido pelas informações que obtivera de estudantes brasileiros na Bélgica), na época, diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, e outros 21 membros, entre cientistas, técnicos e militares.

Louis Ferdinand Cruls

Curiosidade: Segundo um dos participantes da expedição, Floriano Peixoto lhes garantiu mudar a capital ainda em seu mandato (1891-1894), nem que tivesse de instalar o governo em barracas de campanha.

1ª missão Cruls

A Primeira Missão Cruls partiu do Rio de Janeiro em junho de 1892, repetindo exatamente o roteiro de Varnhagen, por ferrovia até Uberaba, no Triângulo Mineiro, ponto final dos trilhos da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro. Dali, seguiu a cavalo — com quase 10 toneladas de bagagens e equipamentos, em 200 baús de madeira — até Pirenópolis, Santa Luzia (Luziânia) e Formosa (Goiás).



Enfrentando condições adversas e rudimentares, efetuaram monumental coleta de informações, medições, levantamentos  e outros levantamentos diversos.

Acampamento da Missão em Santa Luzia (GO) 1892

A missão lançou quatro marcos definindo uma área entre as três cidades — o Retângulo Cruls, de 160 por 90 km — abrangendo nascentes das bacias dos maiores rios brasileiros, Amazonas, São Francisco e Paraná.

A missão na cachoeira do Rio Cassu (1892)

De volta ao Rio de Janeiro, após 13 meses de viagem, uma exposição na sede dos Correios e Telégrafos apresentou mapas, fotografias além de amostras do solo, flora e fauna do planalto. O relatório da 1ª missão Cruls — bastante conhecido como "Relatório Cruls", ou "Relatório Completo" — foi publicado por Lombaerts, em 1894.

Mais famosa imagem dos integrantes da Missão Cruls (1982) em Pirenópolis/GO

Antes, porém, um primeiro relatório parcial já havia sido apresentado ao governo e publicado no Diário Oficial da União em junho de 1893. 

Ao rejeitar uma proposta de exploração de outra área — entre a Bahia, Goiás e Piauí — e determinar estudos mais detalhados, o Congresso Nacional praticamente oficializou a área demarcada para sediar o futuro "Districto Federal". 

A partir de então, o "Retângulo Cruls" passou a constar de todos os mapas do Brasil.

2ª missão cruls

Louis Cruls recebeu do governo Floriano Peixoto, em 1894, uma outra incumbência. Uma segunda missão: instalar uma estação meteorológica no local,  providenciar ligação telegráfica à rede mais próxima,  proceder ao reconhecimento de viabilidade de uma ligação férrea ou férreo-fluvial,  escolher o local da cidade dentro do quadrilátero e aprofundar mais ainda os levantamentos sobre o clima, abastecimento de água, topografia e natureza do terreno.

Panorama de Formosa (GO) em 1894

Nesta segunda visita, o botânico Glaziou destacou as condições favoráveis à criação do lago Paranoá — onde, na sua opinião, teria havido um lago natural em priscas eras.

<<< O botânico Auguste François Marie Glaziou

Os trabalhos da segunda missão Cruls prosseguiram até o final de 1895, quando foram interrompidos por falta de verba e de interesse por parte do governo de Prudente de Morais.

Apenas os militares integrantes da Comissão de Estudos puderam se manter no local, precariamente, reduzidos ao soldo fixo, para a guarda do equipamento — caríssimo — até que se votasse uma verba emergencial, suficiente apenas para levá-lo de volta ao Rio de Janeiro.

Rio das Almas (Pirenópolis/GO) 1894

Um segundo relatório parcial — aparentemente jamais reeditado — foi publicado em 1896, com informações sobre a ligação ferroviária. No mesmo ano, foi suprimida a estação telegráfica de Mestre d'Armas (Planaltina), presumivelmente instalada pela 2ª Missão Cruls.

Rio Parnaíba

Apesar de essa missão ter demarcado o quadrilátero onde seria a futura capital brasileira, demorou décadas até que a construção desta fosse concretizada, pois foi somente no governo de Juscelino Kubitschek que houve determinação política e vontade suficiente para que a capital deixasse o Rio de Janeiro e fosse transferida para Brasília.

2ª Missão Cruls cruzando o Rio Areias (1894)

* - * - *

Durante um mês (Novembro de 2011), uma reprodução do observatório construído em 1892 pela equipe da 1ª Missão Cruls, chefiada pelo astrônomo e engenheiro militar belga Louis Ferdinand Cruls, ficou montada no Parque da Cidade em Brasília:



O observatório tinha como objetivo determinar as coordenadas geográficas da nova capital a partir das estrelas.

Quando da ocasião das comemorações do centenário da 1ª missão Cruls, foi lançado um selo comemorativo:


E, na residência onde nasceu Louis Cruls, em Diest (Bélgica), há uma placa em sua homenagem, onde aparecem menções à sua importante participação na Missão Cruls:


E assim, o blog conta como Brasília deu seus primeiros passos. Nossa importante Capital Federal e linda cidade. Aguardem mais posts com monumentos e locais que o C&M visitou... Abraços, e como sempre...

Obrigado pela Visita !!!

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