sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Ecranoplano


Pelo Google Maps, nota-se um gigantesco aparelho abandonado em um cais da pequena cidade de Kaspiysk às margens do mar Cáspio...


Seria um avião? Ou um hidro-avião? Na verdade, nem um, nem outro... Trata-se de um...

EcRANOPLANO
Ecra...O quê?

O Ecranoplano (do russo: экраноплан) é uma classe de aerodinos com características peculiares, diferente dos hidroaviões, aerobarcos e hovercrafts. O termo deriva da denominação que recebe em russo o efeito solo: экранный эффект (ecranniy effect).


Inventado pelo engenheiro naval soviético Alexeev Rostislav Evgenievich (Imagem abaixo) nos meados dos anos 50, o ecranoplano foi projetado para movimentar-se voando somente a poucos metros de altura sobre uma superfíce plana (geralmente aquática) com objetivo de não ser detectado pelos radares inimigos, aproveitando o chamado efeito solo.

* Alexeev nos anos 70 * 

Durante a Guerra Fria, os ecranoplanos foram vistos, inicialmente no Mar Cáspio, como veículos estranhos, grandes e velozes.


Diferentemente dos aviões convencionais, que voam em razão da baixa pressão produzida sobre as asas, os ecranoplanos utilizam o efeito solo que causa uma sobrepressão sob as asas de formato especial, criando um colchão de ar que dá sustentação à aeronave em vôo rasante.

* Modelo SM-06 *

Retornando à imagem do Google Maps mostrada mais acima no post: Algumas cidades à beira do Mar Cáspio eram as responsáveis por fabricar a maioria de Ecranoplanos. E um dos restos desta relíquia da Guerra Fria permance por ali, inerte...


Este modelo hoje desmantelado, pertence à classe Lun, viajava fortemente armado e era capaz de se deslocar à 550 km/h rente a água aproveitando o efeito solo.


Apesar de seu aspecto decrépito, este gigante de 70 metros de comprimento e 240 toneladas de peso foi conhecido em seus tempos de esplendor como um dos monstros do Mar Cáspio.

A União Soviética foi a grande pioneira e a sua Marinha fez inúmeras experiências altamente secretas, chegando a construir a partir dos anos 50 uma série de ecranoplanos, que são tidos até hoje como um dos mais impressionantes meios de transporte já construídos pelo homem.


CLASSES dos ecranoplanos

Classe KM

O maior dos modelos produzidos na extinta União Soviética, o KM (Korabel Maket), como era conhecido no programa militar secreto, com seus 106 metros de comprimento, 40 metros de largura e 540 toneladas de peso máximo, foi batizado pelo serviço de inteligência americano de Caspian Sea Monster (Monstro do Mar Cáspio).


Podia transportar com tranquilidade cerca de 500 soldados completamente equipados. O primeiro é único KM operacional oficial entrou em operação em 1965, depois da construção de alguns outros protótipos. Tinha dez motores e voava a 30 centímetros sobre a superfície aquática, não podendo elevar-se além dos 3 metros, sob risco de perder estabilidade e acidentar-se.


Possuía autonomia de 3.000 quilômetros com velocidade máxima de 500 km/h. Entretanto, no efeito solo correto, podia enfrentar ondas de mais de cinco metros de altura sem problemas.


O único KM construído acabou colidindo contra a água durante um vôo, quando uma rajada fortíssima de vento o desestabilizou. Na ocasião, o piloto, desobedecendo as instruções de pilotagem, ao invés de aproximar o aparelho da superfície, optou por elevá-lo, fato este que provocou a perda total da sustentação, e sua eventual queda.

Classe ORLYONOK

O A-90 Orlyonok (Pequena Águia) foi concebido e destinado ao transporte e desembarque de tropas e veículos blindados.


O primeiro modelo entrou em operação em 1973 e dos 120 planejados, somente quatro (4) foram costruídos. Com um total de 58 metros de comprimento, 16 metros de altura, e com suas impressionantes 140 toneladas de peso máximo e autonomia de 2.000 quilômetros, deslizava somente a quatro metros acima da superfície aquática numa velocidade de até 400Km/h.


Empregava 2 motores a jato Kuznetsov NK-8 instalados na parte dianteira da fuselagem. Os gases de exaustão desses motores eram direcionados para a superfície inferior das asas, produzindo a sustentação.


O principal sistema propulsor era um turbohélice Kuznetsov NK-12, com hélices de rotações opostas, sendo montado no alto do estabilizador vertical. Havia ainda uma torre de tiro acima da fuselagem, logo atrás da cabine de comando.


Classes LUN e SPASATEL

A Central Hydrofoil Design Bureau (Agência Central Para o Desenho de Barcos Voadores), localizada em Gorky (hoje Nizhni Novgorod), desenhou e construiu as classes de ecranoplanos multitarefas Lun (de decolagem vertical) e Spasatel (de busca e resgate) para a Marinha Soviética.

*Diagrama de um modelo Classe LUN *

O Projeto 903 Lun teve sua primeira unidade completada em 1987 e incorporada à Marinha em 1989 como uma unidade voadora e lançadora de mísseis. Ele se distinguia dos anteriores pela maior altitude que podia alcançar, podendo viajar em velocidade de cruzeiro a 500 metros de altura.


Já o Lun era armado com 3 pares de mísseis de cruzeiro 3M80 ou 80M Moskits, que eram mísseis anti-navio instalados sobre a fuselagem.


Na verdade, o Spasatel (Salva-Vidas) era uma versão do Lun, mas com os lançadores de mísseis removidos. Havia 6 cápsulas de salvamento com capacidade de acolher entre 500 e 600 pessoas a bordo. Ele só precisava de 15 minutos de preparo entre o alarme e a partida. Como o Lun, só teve uma unidade construída.


Os irmãos Lun e Spasatel eram menores que o KM (106 metros) e maiores que o Orlyonok (58 metros), pois tinham quase 74 metros de comprimento, 44  metros de largura e pesando 400 toneladas (carregado). Atingiam facilmente os 550 km/h, com alcance de 3.000 km. A largura era ainda maior que as do KM (42 a 44 metros).

* Visão interna do LUN *

A EXPERIÊNCIA AMERICANA

O anúncio do projeto de um megacargueiro militar desenvolvido pela Boeing foi feito no final de 2002. Ele seria baseado na tecnologia russa dos ECRANOPLANOS.


A Boeing chegou à alocar escritórios comerciais e de projetos na Rússia para auxílio no desenvolvimento do projeto.

Uma aeronave de proporções colossais seria planejada para deslocar grande quantidade de soldados e armamento pesado rapidamente e por longas distâncias. 

Suas asas teriam envergadura de 152 metros, com fuselagem de 110 mestros. Batizada como Pelican ULTRA, poderia transportar 1.270 toneladas de carga, ou seja, um volume 5 vezes superior à capacidade do maior cargueiro do mundo, o avião russo-ucraniano Antonov An-225.  Abaixo um vídeo artístico mostrando como seria o deslocamento da colossal aeronave...


Em um único vôo, por exemplo, o Pelican poderia carregar 17 tanques ou 3 mil homens(!).

Em suas viagens intercontinentais sobre o oceano, voaria a apenas 6 metros de altura, com uma economia de 35% de combustível. Isso permitiria ao ecranoplano americano ter um alcance de 18.500 km, quando voasse sobre as águas e de 12.000 km acima da terra firme (no continente, a altura de cruzeiro subiria para 6.000 metros).

Para facilitar o vôo e as manobras em terra, o Pelican teria suas asas móveis. Elas poderiam ser estendidas para baixo durante o vôo, para melhorar a aerodinâmica, como também, dobradas para cima, quando o barco estivesse parado no solo, para ocupar menos espaço nos hangares.


Os 38 pneus do trem de pouso da aeronave seriam dispostos em pontos estratégicos da fuselagem para distribuir o peso e permitir que o avião pudesse fazer uso de pistas convencionais. 

Mas, por causa de seu tamanho gigantesco, o Pelican estava inicialmente planejado para utilizar apenas bases militares.

Desde 2004 nada mais se ouviu falar do projeto, que foi abandonado  (arquivado) pela Boeing.

* Alexeev nos anos 50 *

O Camisas & Manias agradece sua visita...

Um comentário:

Igor disse...

Parabéns pelo blog. Li e compartilhei vários artigos seus. Fiquei chocado com a Guerra da Lagosta, evento que desconhecia totalmente. kkkkk Um abraço!